Redação do Enem 2018: veja dois modelos de textos exemplares feitos por professores

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Professores do cursinho online Descomplica elaboraram duas propostas de textos que poderiam servir de exemplo para a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018.

O tema deste ano foi ‘Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet’ e foi divulgado às 13h47 deste domingo (4), no início do primeiro dia de provas.

Com o tema, a prova apresentava quatro materiais de apoio para o estudante se guiar na elaboração dos argumentos e da conclusão.Destes, três eram reportagens e o outro era um gráfico.

Em duas delas apareceram os algoritmos das redes socais. Os textos foram publicados em 2016. Um deles, “O gosto na era do algoritmo”, foi publicado pelo jornal “El País” e escrito pelo jornalista Daniel Verdú. O outro, chamado “A silenciosa ditadura do algoritmo”, é de autoria do jornalista brasileiro Pepe Escobar.

A terceira reportagem, também de 2016, foi publicada pela BBC Future. De autoria de Tom Chatfield, o texto chama “Como a internet influencia secretamente nossas escolhas”.

O gráfico que aparece na prova de redação é um organograma de dados produzido pelo IBGE com o perfil dos usuários de internet no Brasil em 2016, com detalhes sobre o uso da internet entre homens e mulheres.

Veja abaixo os modelos de textos elaborados pelos professores do cursinho Descomplica:

Redação modelo 1:

Liberdade Coercitiva

A partir de meados do século XX, inicia-se uma nova fase de processos tecnológicos: a Terceira Revolução Tecnológica e o advento da internet. Se o ambiente virtual, outrora, assustava por ser desconhecido, atualmente os usuários estão imersos no ciberespaço, onde, por exemplo, compram, vendem, se relacionam e dão permissões de acesso às suas informações indiscriminadamente. Nesse sentido, não é razoável que indivíduos não tenham amplos poderes sobre seus dados pessoais, o que acarreta hostilidade e insegurança na internet.

A priori, é importante ressaltar que a amplitude do ambiente virtual pode ser danosa à liberdade. Os algoritmos de sites e aplicativos agem de forma coercitiva: captam aspectos do internauta e criam uma bolha, um simulacro de lugar confortável, em que músicas, postagens, páginas são sugeridas ao usuário, fazendo, assim, com que ele perca autonomia de escolha e seja submissível e influenciável. Assim, no período eleitoral brasileiro, o então presidenciável Jair Bolsonaro foi beneficiado por empresas que compraram pacotes de envio de mensagens por whatsapp para a disseminação de Fake News,dentre os compradores, Luciano Hang, dono da Havan, conforme noticiado na “Folha de São Paulo” e no “El País”.

Outrossim, a utilização de dados para manipular sujeitos podem causar o “Efeito de Manada”. Dessa forma, indivíduos de um grupo reagem da mesma forma, embora não haja direção planejada, deixando clara a perspectiva alienada e a propensão a ser massa de manobra. Fabrício Benevenuto, professor da UFMG explica que essa padrão comportamental é baseado na vontade de o indivíduo se isentar de responsabilidades quaisquer e dar mérito às escolhas dos outros indivíduos. Sendo assim, o Marco Civil da internet, que visa a regulamentação das tramitações online a fim de preservar o cidadão não dá conta dessa tarefa, pois é nessa esfera que a propagação e utilização de informações para doutrinar os seres.

Impende, portanto, que a manipulação dos dados das pessoas é uma questão de liberdade de pensamento e, por isso, direito do cidadão. Cabe ao Ministério da Educação a implementação de programas e alterações nos currículos básicos a fim de que haja literacia digital, para que todos sejam autônomos. Paralelamente, O Marco civil da internet deve ser repensado pelo Poder Judiciário a fim de aumentar fiscalização das corporações que se utilizem de informações com má fé e penalizá-las, quando necessário, visando o bem estar social conforme prevista na Constituição Federal de 88.

Redação modelo 2:

Liberdade Paradoxal

“Tornou-se chocantemente óbvio que a nossa tecnologia excedeu a nossa humanidade”. A reflexão de Albert Einstein em meados do século XX se faz presente no cenário atual, com o advento da internet. Embora a ampliação dos meios de comunicação virtual, além da exposição demasiada se seus usuários exista, a insegurança sobre as informações transmitidas no ciberespaço, atrelada à insuficiência de políticas públicas garantidas na decisão própria, fragiliza o internauta.

Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que, por mais que os indivíduos tenham autonomia de ir e vir no ambiente virtual, não há pleno conhecimento do caminho de seus dados disponibilizados, tampouco da relação algorítmica que lhes é traçado. Como visto no caso Cambridge Analytica, ocorrido em 2016, em que a empresa britânica utilizou informações acessíveis pelo Facebook para promover a candidatura do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Essa relação paradoxal entre a exposição indevida da privacidade de cada usuário cibernético, através de seus gostos e preferências, ratifica a fragilidade construída através da falsa sensação de poder de escolha.

Apesar da vulnerabilidade criada pelo controle de dados, medidas protetivas já existem no cenário global e brasileiro, no entanto, fazem-se insuficientes no que tange à liberdade de escolha. Segundo dados do IBGE, no Brasil, pouco menos de um terço da população acima de dez anos já teve contato com a internet, sendo, em sua maioria, interação através das redes sociais. Não obstante do idealismo platônico, a sutil filtragem de notícias, músicas e filmes concretiza ao homem sua própria caverna, sem abranger as multiplicidades existentes no mundo on-line, tornando-o influenciado por uma realidade inexistente.

Impende, pois, que o século XXI é pautado por uma contraditoriedade entre a necessidade de informação e a doutrinação em massa. Assim, faz-se necessário a ampliação de medidas que protejam os indivíduos para além da liberdade de expressão, mas que os assegurem de não serem delimitados por filtragens sistemáticas. A lei do Marco Civil da Internet, então, deve regulamentar e multar empresas que selecionam o perfil de seus usuários, com a finalidade de garantir sua devida autonomia. Além disso, as escolas devem institucionalizar a disciplina de letramento digital, para que os jovens futuramente gozem do direito da liberdade de pensamento. Somente deste modo a relação do homem com a tecnologia não será excedida, como disse Einstein, mas sim, equilibrada.

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